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Que momentos estamos vivendo!

Impossível não acompanhar o noticiário, o placar do impeachment, a nova etapa da Lava Jato, o último pronunciamento da presidente, a ameaça do sindicalista, a convocação para a passeata e por aí vamos…

Os noticiários de TV e a navegação pelas redes sociais não nos tranquilizam, pois recebemos versões desencontradas dos fatos e constatamos nossa dificuldade em dialogar, repetindo o que acontece entre amigos e familiares, onde as brigas se multiplicam. Não podemos nos isolar da realidade e estes fatos exigem da gente uma qualidade excepcional!

Simultaneamente, vivemos momentos difíceis nas organizações em que atuamos, com demanda por produtos e serviços em queda, cortes nos orçamentos e consequentes demissões, criando um círculo vicioso que realimenta a crise. Crescem a cobrança por melhores resultados, a busca por soluções criativas e consequentemente, os conflitos.

No meio desta dificuldade, lidamos pessoal e profissionalmente com a falta de confiança na vida, nos outros e até em nós mesmos. Não nos sentimos a vontade para discutir nossos medos e inseguranças com pares, subordinados ou gestores, o que nos leva ao isolamento.

Na dimensão político social, nos agrupamos a partir de nossas crenças, ideologias e opiniões, rechaçando quem pensa diferente. Esquecemos que somos seres interdependentes e que precisamos uns dos outros para viver e nos desenvolver.

Qual será a saída? O que esta situação pede de nossa capacidade de liderança? Certamente muito está ao alcance de nossas mãos.

Se puxarmos pela memória, encontraremos em nossa biografia outros momentos como os atuais ou talvez até piores. Vale refletir sobre como saímos das dificuldades do passado, o que deu e não deu certo. Temos uma certeza: esta crise mais cedo ou mais tarde vai acabar e vem a pergunta: como queremos sair dela? Do mesmo tamanho que entramos? Maiores? Menores?

O que podemos aprender com tudo isso? Que transformações internas podemos experimentar, influenciando quem está mais perto e dentro de nossas possibilidades, ajudando nosso país?

Como líderes somos vistos como exemplo e podemos conscientizar nossas equipes das dificuldades reais, do papel e do que se espera de cada um, cuidando de quem fica e tratando quem nos deixa com respeito.

As decisões tomadas nestas circunstâncias são atentamente observadas por todos e definem que valores sustentam a cultura organizacional vigente, marcando nos corações e mentes do que verdadeiramente não abrimos mão.

Em um de seus livros, “Confiança, Doação e Gratidão”, Lex Bos comenta sobre as dificuldades de confiarmos na vida, no outro e até em nós mesmos e nos convida a desenvolver as forças elementares da confiança, para a partir delas, criar novas realidades sociais, com pensamentos, sentimentos e disposições que se contraponham ao vazio, solidão e desesperança das crises e dos conflitos.

Este esforço pode começar com nossas relações mais próximas, nossas equipes, cultivando o diálogo, nos reconciliando, aceitando pontos de vistas diferentes e aprendendo a conviver com o contraditório. Enfim, dando um primeiro passo que abra oportunidades de construção de novos caminhos.

Não é isso que queremos de nossos governantes? Que tal experimentarmos primeiro em nós mesmos?

Talvez assim possamos começar a responder como será o amanhã.