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Último dia em Vancouver: olhando os barcos e o mar, sentia-me muito bem, inspirada pela cidade maravilhosa e pelo tema que vim estudar, durante este mês de julho. Eu vim fazer um curso cuja base é “foco na solução”.

Falamos e incentivamos isso, o tempo todo, para indivíduos, grupos e organizações, mas o que vejo, na realidade, é um constante foco ou “apego” ao problema. Colocamos a cabeça no problema e esperamos ansiosamente por encontrar a solução!Imagine o seu dia a dia: aquele projeto que não anda, o cliente que só reclama, as competências e habilidades que não tenho e preciso desenvolver, a promoção que não acontece etc, etc, etc. Estamos constantemente olhando para o que não nos agrada, para o que não está certo; e isso gera frustração e impossibilidade, vazio e incompletude ─ sentimentos intensos e não, necessariamente, produtivos. Ao trabalharmos com foco no problema, não conseguimos “sair da caixa”. O foco no problema fecha nossos canais de percepção. É como quando, dentro do conflito, não conseguimos pensar ou agir fora dele!“A mente entende tudo aquilo a que damos atenção como algo importante”.

Uma pequena história para ilustrar:

“Imagine-se em um grande banquete: tudo de bom e do melhor sendo servido; mesas fartas, bonitas, ricas em cores, variedades e formas. Um aroma delicioso no ar e você se permite afirmar: “é hoje que saio da dieta!”.  Só que você detesta peixe e, logo ao entrar no salão, sabe que estão servindo peixe e já vai atrás de onde está o peixe. Após passar um tempo procurando, você identifica onde estão sendo servidas as variedades de peixe que você não quer comer e vê alguns garçons que circulam, por perto, complementando o serviço. E afirma categoricamente, para si mesmo: “nenhum peixe virá para o meu prato hoje!”. E foca sua atenção nas mesas com peixes e nos garçons, para que ninguém coloque peixe no seu prato. “Na dúvida, não aceite, pode ser o peixe…!”. Olhos atentos nas mesas e nos garçons que circulam com peixe. Prato vazio e sem peixe, até então. Sucesso total! Até que os garçons, solícitos e intrigados com sua fixação por peixe, imaginam tratar-se de algo muito desejado e não hesitam um segundo em terminar a noite colocando todo o peixe que conseguem no seu prato…”.

Esta é a essência do foco no problema: olhar para ele com tanta atenção que nossas ações ficam limitadas, assim como a possibilidade de buscar o que se quer realmente – seja em um banquete, na empresa em que trabalhamos ou na vida que levamos.

Agora imagine trabalhar com foco na solução: “não queremos resolver o problema de atraso nas entregas, mas ser a companhia com melhor índice de entrega do mercado”; “não queremos resolver a falta de parceria e alinhamento entre áreas, mas criar uma organização que, efetivamente, trabalhe em fluxo, dividindo informações e inspirando confiança”!

Ao trabalharmos com o foco na solução, somos desafiados a ir além do hoje, do agora e do que sempre fizemos, ir além do que se percebe simplesmente ─ e buscar o que não se percebe. É viver pelo “A-há” e não pelo “Aah”. Ou pelo “ops” ou “oh-oh”.

É no “A-há” que crescemos e encontramos a real motivação para fazer algo.

Como líderes, podemos estimular um estado… ou o outro. Precisamos perceber nossos próprios padrões de resposta e sermos, antes de mais nada, líderes de nós mesmos. Qual o seu padrão: olho no problema ou olho na solução?