Recentemente assisti “Nascente & Poente”, da Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins, organizado pela Fundação Oriente, que visa “a valorização e a continuidade das relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente”. No programa, obras eruditas dos portugueses Fernando Lapa e Luiz Pato e dos japoneses Marumoto, Kuwahara e Kubota.
Sou curiosa e não entendo de música. Como seria uma orquestra de cordas: maestro, um percussionista e 31 musicistas com bandolins, bandolas, violões, contrabaixos? Preconcebi cabeças brancas. Julguei que facilmente poderia distinguir as composições orientais das portuguesas. Esperei algo peculiar, mas não envolvente.
Errei em tudo. Músicos jovens, espetáculo emocionante e a surpresa de conhecer composições orientais que lembraram o calor do chorinho, a energia da tarantela, me fizeram valsar por dentro e imaginar cenas bem fotografadas de um poético Fellini.
A música teve ainda outro efeito: saí refletindo que na experiência da arte encontramos a essência da espiritualidade humana, voltamos ao que nos une. Na arte, mesmo diversos, Oriente e Ocidente podem não ser tão distantes.
Pés na rua, a música ainda vibrando contrastou com a lembrança da guerra atual na Europa e a escalada das tensões em velhas novas partições geopolíticas. A que esta crise convida?
Meditar, se aproximar da natureza, contemplar, criar, refletir, argumentar, dialogar, aprender empatia e desaprender dominação, saber lidar com conflitos, são tantas as habilidades e competências artísticas a desenvolver que podemos rascunhar PDIs (Planos de Desenvolvimento Individuais – e Humanitários) para várias encarnações!
O que eu quero promover em minha casa, relações, na escola do outro lado da rua que observo enquanto escrevo, e dentre executivos que apoio, para ajudar a nascer uma inédita e revolucionária cultura da paz? Será “novo de novo” aprender o amor e a “perene, insuspeitada alegria de conviver”? Confessamente incompleta, convido Drummond para terminar aqui.
Por Paula T. Saboia,
10 de maio de 2022.