Eu adoro orquídeas. Não sou colecionadora, mas sou apaixonada por cultivá-las. Não faço isso sozinha. Conto com a ajuda do Marco, meu fornecedor, conselheiro e incentivador há anos. Marco é uma daquelas pessoas simples, talentosas, que carregam sabedoria por viverem integradas à natureza.

Há alguns anos, estávamos debruçados sobre uma planta rara e intrigante que ganhei de presente. Depois de transplantada aqui em Ibiúna, por anos ela nunca mais floriu. Só crescia. A gente mudava a planta para um vaso maior e ela crescia mais, sem florescer.

Comprei um vaso enorme e falei para o Marco: “Agora, vai!” Ele me olhou calmamente e replicou: “Não vamos mudar a planta de vaso. Se ela não sofrer, não vai florescer”.

Nunca mais esqueci deste momento e nem desta frase.

Hoje, trabalhando com processos de desenvolvimento, carrego esta reflexão. Do que necessitamos para florescer como indivíduos? Precisamos de momentos de “contração”, de desconforto… É assim, neste silêncio e na incerteza, que reunimos energia em torno do que é verdadeiramente essencial e encontramos o nosso próprio caminho para manifestar o nosso propósito e florescer.

Do contrário, é só crescimento…

Como líderes, é muito tentador sequestrar estes momentos. No afã de promover condições para o desenvolvimento do outro, acabamos por apontar e facilitar caminhos, fornecer as nossas respostas para os dilemas do outro, cobrar respostas rápidas, negando estes momentos de contração.

E como indivíduos, muitas vezes, não suportamos a ideia de silenciar e sustentar a incerteza. Queremos sair rapidamente destes momentos de incômodo e restrição, partindo logo para a próxima. E assim, deixamos escapar oportunidades valiosas de contrair e florescer.

Encerro por aqui, com a convicção de que cultivar orquídeas foi um meio que encontrei para exercitar a observação e aprender com os fenômenos da natureza, sempre contando com a ajuda de pessoas generosas ao meu lado.

Em tempo: esta é a foto da minha planta na última floração. O que está por vir esse ano? Aguardo serenamente…

27 de abril de 2021,

Por Carla Barretto.