Em um processo de mudança cultural, falamos sempre em mudança de atitudes: como é importante identificar as atitudes certas e as atitudes que estão faltando.

Além disso, como lidar com aquelas atitudes que, aparentemente, não estão presentes, mas que acabam por reforçar aspectos não desejados da cultura. Como quando falamos que “temos uma cultura de aprendizado através do erro, onde ele é percebido como parte do processo de desenvolvimento”, enquanto, na prática, este erro é exposto ou punido ─ e aquele que o cometeu, rotulado de incompetente para todo sempre. Nesta linha, li um artigo, recentemente, que falava não apenas de mudança de atitudes para o crescimento (ou manutenção) do sucesso de uma organização, mas da necessidade de uma “elevação de atitudes”.

“Leaders need wings, not wheels: the profound difference between elevating and shifting behavior” (Dov Seidman)

O autor, Dov Seidman, preconiza que entramos na “era das atitudes elevadas”. Esta imagem é muito bonita, pois não se refere à adoção de clichês ou àquela falsa moralidade onde assumo o tipo “bonzinho-paz e amor” em qualquer situação. O autor fala de empresas que inspiram seus colaboradores a criar conexões, a desenvolver relações com real significado com os diversos stakeholders onde há colaboração, autenticidade e uma relação de ganha-ganha para todos. Em um mundo onde há cada vez mais complexidade, a vantagem competitiva das organizações está nas relações que estabelecem. 

“Not Finance. Not Strategy. Not Technology. It is teamwork that remains the ultimate competitive advantage, both because it is so powerful and so rare.” (Patrick Lencioni)

 E o desenvolvimento destas atitudes elevadas solicitam uma nova mentalidade por parte da liderança. O CCL (Center for Creative Leadership) fala de 3 estágios: liderança dependente, liderança independente e liderança interdependente. Estes estágios diferem na forma como a liderança estabelece a direção, cria alinhamento e desenvolve o comprometimento de todos (DAC):

– estabelecer direção: definir missão, visão, objetivos e áreas de prioridade de ação, pois visão sem priorização resulta em diluição da direção pretendida;

– criar alinhamento: o trabalho entre os diferentes grupos é coerente e na direção estabelecida, onde cada um sabe sua responsabilidade em relação à estratégia;

– desenvolver comprometimento: focar esforços nas necessidades do todo, ao invés das necessidades e objetivos individuais.

Em um estágio de liderança dependente, acredita-se que apenas pessoas em posição de autoridade são responsáveis por produzir direção, alinhamento e comprometimento. Neste estágio, percebem-se as políticas, regras e procedimentos norteadores, no compliance, e a autoridade e lealdade a estes princípios é reconhecida e valorizada. Percebe-se também uma concentração das decisões nas mãos de alguns e, não, da coletividade. Este estágio não é necessariamente ruim ou coercitivo; e existe em diversas organizações cuja coletividade acredita no poder e na capacidade da autoridade em decidir os caminhos. O desafio é quando esta autoridade perde o seu reconhecimento ou o mercado muda ou os próprios indivíduos desenvolvem um outro nível de maturidade, o que os permite saltar para o próximo estágio.

O próximo estágio de liderança é chamado de liderança independente, quando a direção, o alinhamento e o comprometimento são frutos de discussões e influência entre indivíduos e áreas, o que resulta em concessões e acordos. Os indivíduos e áreas são relativamente independentes e alinham a contribuição de cada um, no todo, sem tanta dependência de uma autoridade. Neste estágio, a performance individual é fonte de sucesso e status, e existe uma ênfase na necessidade de assumir riscos calculados, de discutir ou discordar abertamente e na ação independente, dentro das funções ou grupos de trabalho. O estereótipo negativo deste estágio é a organização em silos, nos quais as funções concorrem por poder, os indivíduos veem os demais como rivais e existe pouco senso comum. Como no estágio anterior, este estágio passa a não ser mais tão eficiente quando clientes e consumidores exigem esforços e serviços mais integrados para satisfazer as suas necessidades.

O estágio de liderança interdependente é aquele em que direção, alinhamento e comprometimento são frutos de um trabalho coletivo, o que demanda questionamento mútuo e aprendizado. Novas perspectivas surgem nesta interação. No estágio anterior, são consideradas as perspectivas individuais e as decisões são tomadas com base nelas. Já na liderança interdependente, as perspectivas individuais são questionadas, discutidas e transformadas. O coletivo é percebido como uma fonte de criatividade maior, o que cria mais possibilidades tanto para o indivíduo, como para o todo. Percebe-se extenso trabalho colaborativo entre áreas e funções, abertura interpessoal e franqueza entre as partes, além da busca por sinergias, em toda a organização. O estereótipo negativo deste estágio é o caos, com discussões intermináveis e falta de responsabilidade ou accountability entre as partes.

O interessante é que, mesmo quando uma organização estiver no terceiro estágio, talvez algumas áreas ainda estejam nos estágios anteriores, em função da complexidade dos negócios que operam e do perfil dos próprios indivíduos. Sem certo ou errado, mas como parte do seu processo de desenvolvimento. Tudo isso para chegarmos novamente às “atitudes elevadas”. Para chegar neste terceiro estágio, as atitudes ─ que devem advir de valores e crenças absolutamente genuínos, senão não se sustentam ─ baseiam-se em confiança mútua (inclusive na capacidade de iniciativa e ação do outro) e em um senso maior. E isso não quer dizer chegar neste “sétimo céu” e lá permanecer! Ao contrário: exige, de cada um, vigilância atenta aos valores, princípios e atitudes demonstradas, sendo firmes e consistentes em sua prática e manutenção. Como ideal de busca, a prática da interdependência deve ir além dos limites da própria organização. Várias teorias já trazem este conceito de organização associativa (ou em rede), quando estendemos estes conceitos para fora dos limites organizacionais, envolvendo fornecedores, comunidade, meio-ambiente e outros tantos dependentes da ação organizacional no mundo.

Quem sabe, como caminho evolutivo, as empresas também possam pensar em justificar sua existência pelo benefício gerado para outras pessoas e empresas e, não somente pelos indicadores financeiros correntes. Isso sim seria ter uma “atitude elevada”. Enquanto não chegamos lá, vamos fazendo a nossa parte, sempre que possível.