Em muitas rodas um tema que desperta animadas conversas é procurar e aproveitar oportunidades para viver em outro país. Já participei de várias despedidas de excelentes profissionais, exultantes pela chance de trabalhar e morar fora, quem sabe pra não mais voltar.
Estamos todos cansados de fugir da violência, dos politicos, da corrupção, dos impostos, da injustiça e de uma lista interminável de monstros que nos perseguem. É cada vez mais comum encontrar amigos que estão com um pedido de cidadania em aberto para um dos países de onde nossos avós e bisavós vieram.
Ao mesmo tempo, vemos crescer nos países mais desenvolvidos uma onda anti imigração, com Brexit, Trump e diversas imagens que chocam, ou pelo menos deveriam chocar nossos olhos, mentes e corações.
Sempre tive muito respeito pelos imigrantes, que deixam para trás sua terra, família, costumes, amigos e decidem se aventurar em outros cantos. Admiro sua coragem e sacrifício na busca por objetivos maiores. Conheci imigrantes portugueses, indianos, italianos, chineses, gaúchos, mato-grossenses, cearenses, baianos – uma lista interminável e rendo a eles minha sincera homenagem.
Ao escrever este texto, me dou conta de que eu e minha família também somos imigrantes desde 2009, quando trocamos o Rio por São Paulo, que nos acolheu e onde decidimos trabalhar, crescer e aprender.
Gosto da ideia de mudar, mas creio ser fundamental saber porque estamos emigrando, pois a experiência não é fácil e pode ser maravilhosa ou decepcionante. Entre outras razões, emigramos para sobreviver, para estar perto de nossos amores, para trabalhar ou para experimentar algo novo por pouco tempo ou pra sempre. Se este for seu caso, qual é a razão que lhe leva a pensar em emigrar?
Muitas vezes escuto o “não aguento mais tudo isso que está aí”. Um amigo querido me dizia que quer deixar de se preocupar com sua filha todas as vezes que ela sai de casa. Ao ouvir esta resposta, me lembro de uma das várias histórias de meus conterrâneos que fugiram da violência carioca para viverem a experiência do primeiro assalto perto da nova morada.
Deixando de lado por enquanto as histórias individuais, será que a melhor saída para a nossa situação é mesmo o aeroporto? Particularmente, acho que ao menos, não deveria ser a primeira. Creio que corremos o risco de trocar velhos problemas por “new problems”, “nuovi problemi” ou “neue probleme”.
Concordo com Gil quando canta que o melhor lugar do mundo é aqui e agora, basicamente por duas razões.
Primeiramente, não me recordo de outra época onde a vida político social brasileira tenha sido mais intensa, com tanta participação popular, independente das cores das bandeiras ou das causas que apoiamos. Ficou pra trás a ideia de povo acomodado que mansamente aceita tudo que lhe é imposto. Atos impensáveis há poucos anos atrás, ocorrem diariamente e me enchem de esperança de estarmos realmente construindo o país do futuro de minha adolescência. Os impactos a curto prazo são difíceis, mas o nosso futuro me parece a cada dia mais brilhante e quero ser protagonista desta história – não abro mão de estar aqui, bem pertinho.
A outra razão é minha, individual e totalmente diferente da sua. Tem a ver com a minha história e com o que tenho que aprender nesta época. Entender que a vida não nos dá garantias de nada e que isso não deve me amedrontar, mas desenvolver em mim serenidade, coragem e confiança. Confiança em mim mesmo e na minha capacidade de me transformar e lutar o bom combate na defesa do que acredito. Confiança no entendimento que virá pelo diálogo com quem pensa diferente de mim e que me ajudará a conhecer novos caminhos. Confiança na vida e na ajuda que sempre virá a nós ou através de nós.
Quero aproveitar os palcos onde atuo para fazer a diferença possível, sejam as organizações, equipes que lideramos, família, com os amigos ou nas redes sociais.
Levamos estas questões para todos os lugares que formos, mas eu escolho ficar onde estou e a partir daqui conhecer o mundo todo.
E você? Pra onde quer ir?