Acabo de voltar de uma viagem ao interior do Brasil, no sertão do Nordeste. Fui apoiar um cliente na definição do propósito de um Instituto voltado a impulsionar oportunidades de desenvolvimento para crianças e adolescentes numa pequena cidade, com pouco acesso ao conhecimento e muita descrença em futuros melhores.

No caminho, enfrentamos buracos e escuridão. Em um destes momentos pós-buracos, meu cliente disse: “a estrada chegou antes da água, o 5G antes da educação”. Daquele momento em diante, não consegui pensar em outra coisa. Como definimos nossas prioridades? O que valorizamos ao tomar decisões? O que realmente precisamos?

Não é só uma questão dos políticos! Vejo isso nos cenários pessoais e organizacionais. Somos assolados pela mera aparência, pelo imediatismo, pelo gigantismo. Nos custa compreender adequadamente as necessidades do contexto em que vivemos. Somos atraídos pela imagem de realização que possa nos catapultar nas mídias sociais e nas nossas relações. Enquanto isso, questões básicas são pouco atendidas, gerando sequelas e abismos. Água ou estrada?

O que deveria nortear as nossas decisões? Que critérios nos ajudam a compreender o que traz mais benefícios para mim e para outros?
Foi lindo ver a comunidade ajudar a definir o propósito do Instituto. A alegria de estar lá, de se sentirem reconhecidos nas suas dores e desejos, já fez muito mais do que o 5G. As histórias de transformação contadas pela população atendida incluíam a escuta, o acolhimento e a crença nas possibilidades de sonhar e de realizar.

Conseguimos, a partir do encontro e da co-criação, efeitos muito mais rápidos e intensos que qualquer estrada. Contagiante e vibrante. Conexão total e rápida! Mesmo reconhecendo que ainda há muito a fazer, sonhamos juntos por futuros essenciais e desejados.
Nas organizações, deveríamos procurar pavimentar estas estradas antes de muitas decisões. Na vida pessoal também. Como recuperar a autoconfiança, a confiança nos outros e na vida se não compreendermos o que é importante para nós e o mundo?

Você já se perguntou o que é realmente necessário para você?

 

Por Selim Nigri,

31 de maio de 2022.