Nossa ajudante de casa nos deixou uma mensagem aos prantos. Ficamos preocupados pois parecia algo grave, talvez com a família dela. Quando começou a falar, disse que tinha quebrado uma moringa de água e que estava com medo da nossa reação. Aí, levamos um susto. O que era história dela com outros patrões ou da sua biografia? Ou o que fizemos ou falamos que lhe deu esta impressão?

Deixando de lado essa história (o desfecho conto no final), penso que sabemos muito pouco das pessoas que trabalham com a gente. Seus desafios, seus gatilhos para comportamentos estranhos, seus fantasmas.

Assumimos que, com um bom tratamento e conversas fortuitas, a relação correrá bem e sem grandes questões. Nos enganamos com isso. Até porque, nos momentos dos pequenos acidentes, as sombras podem aparecer em ambos os lados e ferir as pessoas envolvidas.

Precisamos dedicar tempo e escutar as histórias. Um relatório com erro pode dar início a um processo depressivo. Uma palavra mal colocada à uma omissão continuada. Uma peça quebrada à opressão e ameaças. Coisas pequenas desenterrando segredos imensos da individualidade.

Lideranças devem criar espaço e tempo de qualidade para o despertar da consciência e da convivência saudável. Esse é o princípio básico da boa liderança.

Voltando ao início desta história. Chegamos em casa e, ao nos ver sorrindo, ela relaxou e comentou que, por muito menos, já havia sido maltratada e demitida. Que realmente não precisava ter esse receio por tudo que vivenciava em nossa casa. E nos agradeceu por escutá-la.

Consideração e Respeito. Palavras tão simples e desejadas. Quando perdemos a prática delas? O que se será que se esconde nos porões alheios e que pode assustar a todos nós?

 

Por Selim Nigri,

15 de junho de 2022.