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No campo do desenvolvimento organizacional, o tema da retenção dos talentos é um dos dez mais, se não um dos três principais desafios de qualquer liderança e das áreas de Recursos Humanos.

Trabalhamos bastante com este tema e, ao enxergarmos uma organização nos seus quatro aspectos – Recursos, Processos, Relações e Identidade -, rapidamente percebemos que as pontes que estabelecemos entre os indivíduos e as entidades coletivas também respeitam  estas dimensões:

  • . Segurança: status, sobrevivência, cargo, benefícios. Desde a necessidade básica de sustentar a casa até a imagem idílica de que somos o que ganhamos e temos. 
  • . Dedicação: poder fazer e ser reconhecido pelo que gostamos de fazer. Entregas suadas, horas de trabalho despendidas com uma entrega onde percebemos a nossa contribuição. 
  • . Motivação: um bom clima do grupo, sentir-se pertencendo a uma tribo, com vontade de participar e contribuir para a melhoria do mesmo reforçam esta ponte.
  • . Identificação: meus valores, meus princípios, minhas crenças são alinhadas com as da organização.

Talvez reconheçamos estas pontes ao cruzarmos com outros filósofos da administração moderna, como Maslow, e isso não faz diferença. O desafio continua o mesmo: como reforçar os vínculos entre as pessoas e as organizações? Sabemos da instabilidade destes vínculos e dos inúmeros prejuízos ao quebrá-los.

Numa de suas reflexões, o rabino Nilton Bonder (Carta aos Judeus, pág.5/6) cita: “…Vínculos são feitos de deveres; só quando são mercantis é que são deveres e direitos. “. Em outro momento do mesmo texto, ele cita : “…Pode parecer antagônico, mas o grande “barato” deter-se um vínculo é a capacidade de se sentir responsável.”

Pela primeira vez, me questionei sobre a relação de direitos e deveres. Podemos dizer que quando trabalhamos para uma organização, a questão se torna comercial. Afinal, recebemos um salário em troca do serviço oferecido. Mesmo como voluntário, às vezes, acredito que, se não recebo as condições necessárias, não posso fazer o que preciso. E é aí que mora o perigo! Pois as “danças de cadeiras” que vemos no ambiente organizacional (e que, às vezes, enxergamos como questões da Geração Y) só reforçam o tema: para que eu me vincule, eu tenho que receber algo em troca.

Como criar novas condições para vincular mais fortemente as pessoas? Como as organizações devem atuar para criar esta sensação de contribuição da individualidade para com o coletivo? O que faz com que esta entrega seja feita incondicionalmente?

Um tema ainda considerado tabu é o do Amor. Como trabalhar o amor com os funcionários? Amamos aquilo que criamos, mesmo com todos os seus defeitos. Qual é o espaço de criação que temos disponibilizado às pessoas? Com a pressa dos resultados (ou seria pressão?), tendemos a querer coisas prontas e achar que as pessoas vão aceitar e gostar das nossas propostas. Além disso, precisamos ver a perenidade da contribuição – deixar uma marca no mundo, naquele ambiente. Ser parte da história de construção de algo melhor faz com que nos julguemos vinculados e, a não ser que seja doente, ninguém quer deixar uma marca ruim de si próprio.

Este sentimento “empodera” as pessoas que, a medida do exercício constante do mesmo, cria um ambiente de contribuições e espontaneidade capaz de alavancar resultados e cultura. Me sinto parte de uma causa, pertencendo a um grupo e sendo melhor do que sou. A cada novo desafio, cresço e amadureço, me vinculando a propósitos maiores dos quais os resultados alcançados fazem parte.

A máxima do poeta Vinicius de Moraes “que seja eterno enquanto dure” vale para as organizações e suas lideranças. Criar e reforçar vínculos são parte fundamental do papel da liderança por mais que não sejam para sempre. E isso contribui para o reforço do nosso próprio vínculo e não somente o dos outros. Vale a pena tentar!