Nas vésperas do Carnaval, junto com alguns sócios da Adigo Lumo, participei do curso de Shadow Coaching®, com a canadense Donna Karlin, patrocinado pelos nossos grandes parceiros e amigos do EcoSocial – aos quais somos super gratos pelo convite!
Até então, eu conhecia como shadow coaching a prática de observar o performer (como denominamos o coachee) ou um grupo de trabalho, nas suas atividades de dia-a-dia (reuniões, encontros, processos decisórios etc), como uma forma a enriquecer o processo de coaching. Através da observação de situações reais, o coach pode ampliar o olhar do cliente, explorando pontos cegos sobre sua atuação em grupo, impacto das suas palavras, silêncios e ações, dinâmica do time e efetividade do processo de trabalho, só para começar…
No processo de coaching tradicional, corremos o risco, como coaches, de ficarmos rendidos à percepção do performer, humanamente influenciada pelos seus filtros de simpatia, antipatia, valores, mapas mentais etc. Normalmente buscamos minimizar esse efeito desenhando, no processo de coaching (sempre caso a caso!), assessments, feedbacks 360º e, acima de tudo, oportunidades de estimular o protagonismo do performer na realização das conversas verdadeiras que precisam acontecer no dia-a-dia. O shadow coaching vem complementar, ao iluminar “momentos da verdade”, impulsionando o performer a tomar decisões ou fazer as mudanças necessárias.
Para minha surpresa, a abordagem preconizada traz outros matizes além do coaching observacional. Shadow Coaching, para Donna Karlin, também significa lançar um feixe de luz sobre a sombra do outro, colocando perguntas de confronto e desafio de forma direta e incisiva, mas sem abrir mão do respeito e empatia, o que a leva a trabalhar muitas vezes com sessões bem rápidas, de 15 minutos ou até menos.
Sem entrar no mérito ou julgamento das diferentes práticas existentes no mercado, o que também me tocou foi a quebra de paradigma sobre o que “é” e o que “não é” coaching. Quando comecei a ter contato com o tema, há mais de 15 anos na Association for Social Development, através de colegas, coaches do Canadá, Reino Unido e Holanda, pouco se falava de coaching no Brasil e não havia parâmetros nem práticas a serem seguidas. Hoje, com a expansão e consequente banalização da atividade de coaching, a bem vinda e necessária profissionalização, em exagero, pode nos levar para a outra polaridade, de engessamento – “coach SÓ trabalha com perguntas”, “é proibido perguntar POR QUE”, “um processo deve ter X sessões, com duração mínima ou máxima de Y” etc.
O Shadow Coaching de Donna Karlin trabalha com uma diferente dimensão de tempo. Não importa o número ou duração das observações ou da “sessão”, mas sim o tempo necessário para provocar mudança e mobilizar para a ação – lembrando que ampliar consciência, levar à reflexão, também é ação!
Fazendo um paralelo com o arquétipo das qualidades anímicas que usamos na Adigo Lumo, baseado nos planetas e deuses gregos, o shadow coaching busca combinar a competência lunar do espelhamento (onde o coach, através de suas observações, atua como espelho do cliente), com a qualidade de Marte, deus da Guerra, que usa seu pensar claro e estratégico no mirar da sua lança, a palavra, para fazer a pergunta certeira que confronta e gera movimento.
Mais do que novos modelos, a perspectiva de Donna Karlin nos convida a desafiar nossas abordagens de coaching e consultoria de processo, investindo cada vez mais na maestria da arte de observar (vide nosso artigo sobre Goetheanismo!) e no exercício da intervenção cirúrgica, sem ter medo, como coaches e consultores, de ir direto ao ponto.