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Minha inspiração para este texto vem de um vídeo intitulado “Happy Maps” que está disponível no TED. Neste, o pesquisador Daniele Quercia traz uma provocação muito simples sobre nossa busca implacável pela eficiência e o que ela representa no dia a dia. Tudo começa com a experiência dele com o GPS em uma cidade nova e o descobrir – surpreso e envergonhado – o quanto estar preso aquela rota única e eficiente o privava do encontro com tantos outros elementos, alguns até mais significativos que a eficiência em si. A rota que salvava 1 min no seu trajeto não era a mais calma, nem a mais bela, nem a mais inspiradora. Ela só salvava 1/min a mais que algumas outras tantas que traziam estes elementos.

Este fantástico experimento me fez pensar nas rotas que seguimos como indivíduos e como líderes, na forma como nos “aprisionamos” em coisas, pessoas ou referencias sem tentar ou atentar para algo novo. Afinal, a cada momento, a cada encontro, muito pode ser descoberto quando não nos fechamos para as nossas próprias questões, promovidas por referências externas ou internas, agravadas por um ego dominador.

Se pensarmos em organizações, buscamos eficiência em tudo, mas lembrando a quadrimembração ou os 4 níveis das organizações, o que significa eficiência quando saímos dos níveis de recursos e processos e vamos para os níveis de relações e identidade? Nos dois primeiros níveis das organizações, buscamos fazer mais e melhor com menos e esta eficiência alavanca ou sustenta a competitividade que muitas vezes é chave para se manter no jogo. Nestes níveis, definimos projetos de melhoria e conseguimos medir os resultados dos nossos esforços, inclusive pelo tempo do relógio. Mas, e nos demais níveis? Será que também pensamos que eficiência nas relações são os minutos que salvamos na convivência com o outro e é isso que trará benefícios para a organização? Nestes níveis, o tempo é outro, não é o do relógio. Afinal, quanto tempo leva para ganhar a confiança do outro, para desenvolver relações e para transformar uma organização?

Somos pressionados pelo relógio pelo tanto que temos a fazer e optamos pela rota conhecida e usual: com nossas equipes, damos respostas ao invés de fazermos perguntas, fazemos pelos outros ao invés de ensinar a fazer, abafamos conflitos ao invés de resolve-los, terceirizamos o desenvolvimento das nossas equipes ao invés de assumir como parte do nosso próprio desenvolvimento. O mesmo acontece com os pares! Encontro cada vez mais líderes que negligenciam suas relações em prol da eficiência, em prol do seu resultado de curto prazo. Se é importante para o negócio, ok, senão, nem entra na rota, simplesmente “não tenho tempo para isso”.  Acionamos o automático em prol de uma eficiência e não percebemos que aumentamos nossas limitações e a dos outros, presos dentro de uma rota única, atrelados a um critério único e não necessariamente o mais adequado para julgar a eficiência do caminho escolhido. Não é só definir onde queremos chegar mas como. E com quem.

Todos temos um “GPS interno”, um “software interno” criado por nós mesmos que propõe a rota a seguir a partir dos nossos valores e das crenças adquiridas. Este “GPS interno” pode ser nosso guia mas pode também ser uma limitação por si só que não nos deixa olhar para o lado. Outras vezes, sem perceber, aumentamos estas limitações internas adotando outras que o mundo traz, que a organização ou o outro trazem e nos acostumamos a seguir nesta rota única sem perceber que talvez estejamos perdendo grandes oportunidades de fazer algo que vai além do chegar até lá mais rapidamente. Por um lado, continuamos buscando aquele minuto a menos como formula do sucesso, o que resulta tão passageiro e frugal, enquanto continuamos lastimando dia após dia a falta de vias mais calmas, mais belas, ou mais inspiradoras no nosso caminho. Lastimamos a solidão mas não criamos laços, esperamos por um dia melhor sem uma mudança de atitude. Se sempre optamos por uma rota única, uma única forma de fazer, como vamos reconhecer o diferente, estimular a criatividade, a iniciativa, o ousar? Como vamos identificar e estimular o verdadeiro? Como organizações, líderes e indivíduos, como vamos escolher nossas próprias rotas ao invés de continuarmos fazendo coisas que nos levam a resultados que não são efetivamente o que queremos? Rompa com padrões, tire os olhos da tela. Se olhar só para o GPS, corre-se o risco de bater o carro…