Essa citação da Mafalda, personagem inquieta e contestadora do falecido cartunista argentino Quino, tem tudo a ver com a minha vivência na semana passada. Uma jornada de desenvolvimento em grupo, que pediu abertura, disposição e entrega para trabalhar (ou dançar?) com as nossas sombras.

Sombras que se revelam no encontro com o outro, despertando algo que precisamos desenvolver. Quanto espaço oferecemos para elas? É preciso estar bem acordado e consciente para perceber seus alarmes, vozes internas estranhas que ressoam, anunciando a sua chegada.

Ao sermos “fisgados” pela sombra do outro, entramos em contato com aquilo que nos impede de ser quem queremos. Essa intrigante tarefa de moldarmos a nossa individualidade, a partir das nossas experiências. Se as sombras vivem no porão da nossa alma, é preciso colocar luz, encarar, dialogar, trazer para a consciência e, principalmente, para o coração. Na voz envolvente da querida Renate Nisch, o convite é “recolher o estrago que provocamos, trazer para o coração e devolver para o mundo com afeto e calor.” Integrar para transformar. Se trabalharmos as nossas sombras com consciência e amorosidade, criaremos um campo que nos fortalece e nos aproxima do outro. Sim, é preciso coragem, confiança, compaixão e atitude.

A busca não é sobre perfeição, mas sobre totalidade, inteireza: onde há luz, há sombra. Esse é o nosso chamado e, por isso, celebro a incerteza do destino, o mistério dos encontros e a batalha em torno das decisões que oferecem e renovam a oportunidade de expressarmos a nossa singularidade e o nosso caminhar, em constante evolução, no palco da vida.

Por Carla Barretto,

29 de março de 2022.