Segundo a Antroposofia, a partir dos 56 anos, libertamos o nosso querer. O querer é diferente do agir. O querer é a mobilização interna para a ação, uma das partes mais inconscientes do nosso ser. O agir é a consequência externa, é o querer em ação.
Há dois anos, venho lidando com os desafios e delícias deste processo. Como dar lugar ao “Eu quero” ao invés do “Eu tenho que…”? Desde muito cedo, sou assombrada por intermináveis listas de To Do’s, onde o urgente é priorizado em detrimento do importante, sofrendo as consequências da procrastinação e da culpa do deixar para a última hora.
Libertar o querer passa pela consciência do que você ainda precisa fazer e o que deve ser feito pelos outros que têm sede de aprender. É disponibilizar sem apegos o conhecimento acumulado, abrir mão do controle e criar espaço para que outros façam – e do jeito deles. É oferecer perguntas abertas para ampliar a visão, ao invés de dar respostas para o outro chegar ao “caminho certo”. Bonito de falar e difícil de fazer.
Libertar o querer é reconhecer que a qualidade da nossa energia e contribuição mudaram, que outros já fazem muitas coisas melhor. No entanto, o olhar panorâmico, a observação do fenômeno, dos padrões, a intervenção cirúrgica, a tolerância, o colocar em perspectiva o tamanho do problema são conquistas preciosas da nossa jornada interna através do mundo externo.
Libertar o querer é perceber que o centro de gravidade muda do corpo para a alma. A pausa se torna uma necessidade física, psicológica e espiritual.
Para libertar o querer, é preciso primeiro se perguntar: o que EU quero? É doloroso o silêncio profundo que esta pergunta traz. O sabotador interno pula e responde: “Para quê perguntar, se não é possível?”.
No entanto, o querer é sábio e está mais próximo da simplicidade e da essência do que de desejos impossíveis.
O real desafio reside em fazer as escolhas que vêm com a resposta do querer. Libertá-lo é abrir espaço para o novo dentro de si.
O que o seu querer quer lhe dizer?
18 de maio de 2021,
Vera Oliveira.