Sempre gostei de ler. Quando pequena, minha mãe tinha uma estante repleta de livros. Sem facilidade para comprar novos, li e reli diversos daqueles títulos, feliz da vida. Mas, demorei a gostar de poemas.

Tudo começou aos 15 anos, com um livro que ganhei de presente do meu primeiro namorado: “Para viver um grande amor”, de Vinícius de Moraes. Algo se revelou para mim. Não me tornei uma leitora ávida de poemas, longe disso, mas hoje admiro e agradeço muito a quem me presenteia com sua sensibilidade, nesta e em outras formas de arte, até porque não tenho o menor talento para nenhuma delas.

Ou assim eu acreditava… Recentemente, em aulas de geometria projetiva com a Dna. Karla e o Prof. Mathias, descobri que, na idade média, sabia-se que tudo o que o ser humano faz é arte. Explicaram-me que fazer arte é trazer algo para dentro, elaborar pessoalmente e devolver para o mundo. Assim, tudo é arte.

Faço arte quando conduzo um evento, treinamento, conversa ou preparo um powerpoint. Nada é trivial quando a intenção é genuína e quando coloco o melhor de mim nas ações e criações.

Nossos dias estão repletos de automatismos e somos demandados a estar conectados 100% do tempo, ainda que desconectados de nós mesmos e dos outros. Somos atropelados pela pressão das entregas, ficando com a sensação de um contínuo esvaziar-se, quando deveríamos nos preencher antes de devolver.

Queria deixar esta reflexão para você também: o quanto você reconhece arte no seu fazer? O quanto do seu dia é “fazeção” e o quanto é realização? Podemos ressignificar as interações e entregas, trazendo mais de nós mesmos?

E para fechar, um trechinho final do poema “Da solidão”, de Vinicius de Moraes: “(…) a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro”.

 

25 de maio de 2021,

Por Silvia H. Magalhães.