Duas palavras chamuscadas por mau uso: política e poder. Nem sempre foi assim: política vem de polis, tem a ver com ação cidadã; poder se relaciona à energia que torna coisas possíveis.

Dirigido por Regina King, One Night in Miami (2020) é uma ficção que provoca reflexão. Quatro celebridades (os homens negros Malcolm X, Muhammad Ali, Jim Brown e Sam Cooke, este músico) em acalorada discussão sobre seu papel na luta pelos direitos civis, culminando com uma mudança: como fez Bob Dylan com Blowing in the Wind, Cook decide usar seu poder para transformação social, compondo A Change is Gonna Come.

A luta pela equidade racial ainda está em curso e líderes têm posto seu poder a serviço de causas grandes e urgentes. Poderosos, eles! E você? E eu? Quantas vezes caímos na armadilha de renunciar o nosso poder individual?

Exercer poder é tanto afirmar, quanto dizer não. Pode ser nas pequenas coisas ao nosso alcance: ir ou não a uma reunião que outros estarão sem máscaras; comprar a gelatina que vem no envelope e não a que tem também um cartucho de papelão externo; arriscar trazer para sua equipe um profissional de uma universidade menos prestigiada que nasceu na periferia, tudo isso é afirmar e dizer não. Refletir, tranquilamente, sobre nossa própria reação quando a Anitta foi indicada para um Conselho, distinguindo viés inconsciente de informada ponderação, também é exercer o nosso poder.

Lamento ter tido tão pouca ação política na vida, quão pouco do meu poder usei! Mas, o fundo do poço da pandemia e de nossos políticos despertaram algo novo em mim. Em uma semana, fiz dois contatos e deles surgiu, primeiro, a chance de apoiar profissionais de um hospital municipal focado na Covid-19 e, depois, de ajudar mulheres políticas com grupos de encorajamento e aprendizagem mútua. Fazer mais diferença e estar mais feliz comigo mesma estava ao alcance de dois telefonemas, bem mais perto que imaginei!

E você, como irá usar melhor o seu poder a partir de agora?

 

03 de setembro de 2021,

Por Paula T. de Saboia.