“Ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância. As minhas necessidades, as minhas relações. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.” Trecho da canção de ANAVITÓRIA, na voz de Rita Lee, que inspira a minha reflexão.

Tenho trabalhado com diferentes grupos de líderes mergulhados neste dilema. Como avançar nas transformações e considerar as crenças e pilares que sustentaram o crescimento até aqui? Como pavimentar o futuro?

Gosto de começar estas jornadas em grupo com um combinado bem simples: liberdade para sonhar. Criar imagens de futuro requer este espaço. E é sempre bom lembrar que sonhos nascem dos indivíduos. Indivíduos livres para experimentar e desenvolver suas capacidades imaginativas, inspirativas e intuitivas. É neste espaço de liberdade que expressamos nossa aspiração de um futuro que queremos construir. Uma imagem potente de futuro, cheia de significado, tem a força e o poder de despertar a vontade e orientar decisões conscientes. Reunir pessoas e trabalhar imagens de futuro com liberdade é destravar o potencial de um grupo, é reconhecer a força do que está por vir no desejo coletivo, ainda inconsciente, pronto para emergir. Não é um processo lógico e racional que nos leva de um ponto A para um ponto B. É se entregar ao novo e revelar o desconhecido que só existirá e se tornará realidade, se imaginarmos e caminharmos até ele. Está aí um belo primeiro passo.

E como lidar com o que nos trouxe até aqui? É preciso encarar esta pergunta com coragem e interesse vivo pelo que está acontecendo no mundo. O processo convida a um mergulho profundo na biografia para extrair o que é, verdadeiramente, essencial. Reconhecer e honrar este núcleo central, aquilo que é único e singular. Este é o espaço do sagrado, do qual não queremos abrir mão, mas que precisa ser cultivado e revitalizado para que a sua seiva continue a nutrir um sistema vivo, em constante evolução. Gosto muito da reflexão do filósofo Mario Sergio Cortella: “Na vida, nós devemos ter raízes e não âncoras. Raiz alimenta. Âncora imobiliza.”

E para você, que espaço o seu passado deixa para a sua liberdade hoje?

 

26 de outubro de 2021,

Por Carla Barretto.